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quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Consciência Negra



Eram os anos 50 e naquele dia ela pensou que conseguira livrar seu filho da sorte de ser negro em terras de brancos. Mulher pobre cega de um olho fora abusada e não conseguira interromper a gravidez e eis que nasce um lindo e roliço bebê negro carregando toda sua raça, pronto para seguir seu destino. Não querendo que passasse pelos mesmos sofrimentos com um alfinete de fralda tenta acabar com sua pouca vida (essas são minhas lembranças). Não era esse o destino que o esperava e é salvo, ou não por uma família branca de origem italiana. Quem dera a morte o tivesse levado pensar ela, agora de onde estiver, todo o sofrimento de um negro em terras de brancos escravagistas esse pequeno passou. Comeu o pão que o diabo amassou, as surras foram diárias afinal é de “pequeno que se torce o pepino”, e ele não podia dar errado afinal estava sendo educado por mulheres brancas, verdade seja dita as surras não eram privilegio só dele naqueles dias muitas surras levávamos com a mesma intenção educar. O tempo fez com que surgisse a revolta e buscou alternativas para sua vida e sua vida foi de muito sofrimento, trabalho e pobreza, todos os restos caridosamente eram para ele, e seu filho não conseguiu mudar seu destino miserável, de nada adiantou ter sido adotado se o amor foi pouco, se as diferenças foram assim tratadas, se dos da sua idade ganhou carinho respeito, mas ninguém enfrentou o preconceito para dentro da família, nem tão pouco para a pequena cidade reacionária e  conservadora, como se fosse legado somente dele quebrar os grilhões da escravidão. A liberdade e o respeito de direito não foi tratado com ele.
 Na verdade ele conseguiu amolecer o coração do velho emigrante italiano, que o amava de um tanto invejável por qualquer um dos seus filhos e filhas e admirado por essa neta.
Hoje ele é o que o deixaram ser, sempre com um sorriso no rosto, agora sem dentes, servindo sempre a todas tradicionais famílias com seu trabalho de pintor, ”afinal isso ele carrega é pessoa honesta” pode entrar em qualquer casa afinal foi criado por uma “boa e tradicional família”, e segue levando a vida.
Consciência Negra, ele não a conseguiu, não o deixaram ter, ele foi criado para ser um branco filho de imigrantes italianos de pele escura, acho que entortaram o pepino. E eu hoje acordo com vergonha de mim de não ter enfrentado dentro da minha própria família a escravidão continuada, posso ter todas as justificativas do mundo, mas nada justifica.