Minha única opção
nesta manhã era encarar a chuva e o transito de São Paulo.
No entanto meu
pensamento foi desviado pelo meu olhar, foi desviado pelo número imenso de
guardas chuvas e sombrinhas colorindo e dançando na manhã fria e chuvosa de São
Paulo.
Desvio meu olhar do
transito intenso e moroso, me pego olhando para uma sombrinha dourada com
estampa de onça e ao invés de encontra uma moça se guardando da chuva dou de
encontro com um homem muito magro, negro, com bigodes já grisalhos, terno preto
e surrado, cara de investigador de bares noturnos antigos aonde iam à busca de
moças para o prazer, olho em volta e acho que tenha saído do prédio antigo à
frente, bem desenhado, olho para o segundo andar e vejo o neon verde e vermelho
do sex shopping. Nova sombrinha me chama atenção, desta vez com as cores do arco-íris,
uma dessas que se vende nas esquinas de grande transito na capital, ela protegia
da chuva um rapaz sarado de camiseta cavada. Começo a imaginar a vida de cada
passante e seus guarda-chuvas.
Os casais aproximando
seus corpos quentes embaixo da mesma sombrinha; a mulher elegantemente vestida
para enfrentar a chuva com a sombrinha da moda; o rapaz de terno e gravata com
seu guarda-chuva preto. Sem guarda-chuva somente os operários da rua com suas
capas amarelas, e as mãos ocupadas pelas grandes vassouras que varem as folhas,
os papeis molhados, as pontas de cigarros a sujeira das ruas com a água da chuva.
Saiu desse devaneio,
e volto o olhar para o transito, assustada pelo toque da buzina que vem despertar
meu pensamento: as mulheres são mais precavidas que os homens, sempre têm uma
sombrinha a mão, ou na bolsa dispostas a partilhar sua proteção.
A chuva aumenta e
entre o cuidado com os carros e a curiosidade aguçada em ver a dança das sobrinhas
me deparo com um pobre coitado cuja única proteção é uma sombrinha com quatro
varetas quebradas expostas a chuva e o pano enrugado que deixa passar a chuva e
vai molhando seu corpo preparando o para um dia de trabalho úmido e frio, e
assim meu olhar se desvia para uma e outra e mais outra sombrinha e mais outra
e mais outro... A cada trajeto que eu cumpria
a chuva aumentava e era amparada por tecidos xadrez, florais, listrados, lisos,
e debaixo da chuva a dança continua.
Sigo e chego, e com a
minha sombrinha amarela e dourada começo a fazer parte da dança na chuva e ser
olhada de dentro dos carros curiosos.
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