Eram os anos 50 e naquele dia ela pensou que conseguira
livrar seu filho da sorte de ser negro em terras de brancos. Mulher pobre cega
de um olho fora abusada e não conseguira interromper a gravidez e eis que nasce
um lindo e roliço bebê negro carregando toda sua raça, pronto para seguir seu
destino. Não querendo que passasse pelos mesmos sofrimentos com um alfinete de
fralda tenta acabar com sua pouca vida (essas são minhas lembranças). Não era
esse o destino que o esperava e é salvo, ou não por uma família branca de
origem italiana. Quem dera a morte o tivesse levado pensar ela, agora de onde estiver,
todo o sofrimento de um negro em terras de brancos escravagistas esse pequeno
passou. Comeu o pão que o diabo amassou, as surras foram diárias afinal é de “pequeno
que se torce o pepino”, e ele não podia dar errado afinal estava sendo educado
por mulheres brancas, verdade seja dita as surras não eram privilegio só dele naqueles
dias muitas surras levávamos com a mesma intenção educar. O tempo fez com que
surgisse a revolta e buscou alternativas para sua vida e sua vida foi de muito
sofrimento, trabalho e pobreza, todos os restos caridosamente eram para ele, e seu
filho não conseguiu mudar seu destino miserável, de nada adiantou ter sido
adotado se o amor foi pouco, se as diferenças foram assim tratadas, se dos da
sua idade ganhou carinho respeito, mas ninguém enfrentou o preconceito para
dentro da família, nem tão pouco para a pequena cidade reacionária e conservadora, como se fosse legado somente
dele quebrar os grilhões da escravidão. A liberdade e o respeito de direito não
foi tratado com ele.
Na verdade ele
conseguiu amolecer o coração do velho emigrante italiano, que o amava de um
tanto invejável por qualquer um dos seus filhos e filhas e admirado por essa
neta.
Hoje ele é o que o deixaram ser, sempre com um sorriso no rosto,
agora sem dentes, servindo sempre a todas tradicionais famílias com seu
trabalho de pintor, ”afinal isso ele carrega é pessoa honesta” pode entrar em
qualquer casa afinal foi criado por uma “boa e tradicional família”, e segue levando
a vida.
Consciência Negra, ele não a conseguiu, não o deixaram ter, ele
foi criado para ser um branco filho de imigrantes italianos de pele escura, acho que entortaram o pepino. E eu hoje
acordo com vergonha de mim de não ter enfrentado dentro da minha própria família
a escravidão continuada, posso ter todas as justificativas do mundo, mas nada
justifica.
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quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Consciência Negra
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