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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

No momento das eleições temos que pensar, ponderar, analisar e votar

Não vou escrever sobre este momento só cópiar o que já foi dito e muito bem dito.

Leonardo Boff, teólogo autor do texto "Para salvar a vida: as mulheres no poder"

Nesta terça-feira (24) o site Adital - Notícias da América Latina e Caribe, publicou o artigo “Para salvar a vida: as mulheres no poder”, de autoria do teólogo, filósofo e escritor Leonardo Boff, um dos expoentes da Teologia da Libertação no Brasil.



O escritor faz uma reflexão sobre a importância do feminino nos espaços de poder e decisão, ressaltando a presença de duas mulheres na disputa presidencial no Brasil, Dilma Rouseff (PT) e Marina Silva (PV), e destaca a importância da eleição de uma delas para o futuro do Brasil.



Defensora da participação – sempre maior e mais qualificada – das mulheres na política , a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), candidata à reeleição, elogia o texto do teólogo e também louva a presença das duas mulheres na disputa presidencial. “Não são duas mulheres quaisquer. São mulheres com origem de esquerda, que tem uma trajetória política brilhante, ambas, com condições reais de governar o nosso país”, elogia Erundina.



Quanto ao texto escrito por Leonardo Boff e publicado no site da Adital, Luiza Erundina também manifesta concordãncia e grandes elogios: “Como mulher e militante, sou profundamente grata a Leonardo Boff por nos brindar com uma das mais belas e profundas reflexões sobre a política, as mulheres no poder e a promissora novidade das candidaturas de Dilma e Marina”, expressa.



E, como a maioria dos brasileiros e brasileiras, Luiza Erundina manifesta sua opinião, junto com uma prece: “Façamos nossa parte para que o desígnio de Deus se cumpra”, conclui Erundina.



Abaixo, o texto de Leonardo Boff na íntegra.



24.08.10 – BRASIL

Para salvar a vida: as mulheres no poder

Leonardo Boff *



Adital – Há uma feliz singularidade na atual disputa presidencial no Brasil: a presença de duas mulheres, Marina Silva e Dilma Rousseff. Elas são diferentes, cada qual com seu estilo próprio, mas ambas com indiscutível densidade ética e com uma compreensão da política como virtude a serviço do bem comum e não como técnica de conquista e uso do poder, geralmente, em benefício da própria vaidade ou de interesses elitistas que ainda predominam na democracia que herdamos.



Elas emergem num momento especial da história do país, da humanidade e do planeta Terra. Se pensarmos radicalmente e chegarmos à conclusão como chegaram notáveis cosmólogos e biólogos de que o sujeito principal das ações não somos nós mesmos, num antropocentrismo superficial, mas é a própria Terra, entendida como superorganismo vivo, carregado de propósito, Gaia e Grande Mãe, então diríamos que é a própria Terra que através destas duas mulheres nos está falando, conclamando e advertindo. Elas são a própria Terra que clama, a Terra que sente e que busca um novo equilíbrio.



Esse novo equilíbrio deverá passar pelas mulheres predominantemente e não pelos homens. Estes, depois de séculos de arrogância, estão mais interessados em garantir seus negócios do que salvar a vida e proteger o planeta. Os encontros internacionais mostram-nos despreparados para lidar com temas ligados à vida e à preservação da Casa Comum. Nesse momento crucial de graves riscos, são invocados aqueles sujeitos históricos que estão, pela própria natureza, melhor apetrechados a assumirem missões e ações ligadas à preservação e ao cuidado da vida. São as mulheres e seus aliados: aqueles homens que tiverem integrado em si as virtudes do feminino. A evolução as fez profundamente ligadas aos processos geradores e cuidadores da vida. Elas são as pastoras da vida e os anjos da guarda dos valores derivados da dimensão da anima (do feminino na mulher e no homem) que são o cuidado, a reverência, a capacidade de captar, nos mínimos sinais, mensagens e sentidos, sensíveis aos valores espirituais como a doação, o amor incondicional, a renúncia em favor do outro e a abertura ao Sagrado.



O feminismo mundial trouxe uma crítica fundamental ao patriarcalismo que nos vem desde o neolítico. O patriarcado originou instituições que ainda moldam as sociedades mundiais como: a razão instrumental-analítica que separa natureza e ser humano e que levou à dominação sobre os processos da natureza de forma tão devastadora que se manifesta hoje pelo aquecimento global; criou o Estado e sua burocracia, mas organizado nos interesses dos homens; projetou um estilo de educação que reproduz e legitima o poder patriarcal; organizou exércitos e inaugurou a guerra. Afetou outras instâncias como as religiões e igrejas cujos deuses ou atores são quase todos masculinos. O “destino manifesto” do patriarcado é do dominium mundi (a dominação do mundo), com a pretensão de fazer-nos “mestres e donos da natureza” (Descartes).



Atualmente, os homens (varões) se fizeram vítimas do “complexo de deus” no dizer de um eminente psicanalista alemão, K. Richter. Assumiram tarefas divinas: dominar a natureza e os outros; organizar toda a vida; conquistar os espaços exteriores e remodelar a humanidade. Tudo isso foi simplesmente demais. Não deram conta. Sentem-se um “deus de araque” que sucumbe ao próprio peso, especialmente porque projetou uma máquina de morte, capaz de erradicá-lo da face da Terra.



É agora que se faz urgente a atuação salvadora da mulher. Damos razão ao que escreveu anos atrás o Fundo das Nações Unidas para a População: “A raça humana vem saqueando a Terra de forma insustentável e dar às mulheres maior poder de decisão sobre o seu futuro pode salvar o planeta a destruição”. Observe-se: não se diz “maior poder de participação às mulheres”, coisa que os homens concedem, mas de forma subalterna. Aqui se afirma: “poder de decisão sobre o futuro”. Essa decisão, as mulheres devem assumir incorporando nela os homens, pois caso contrário, arriscaremos nosso futuro.



Esse é o significado profundo, diria, providencial, das duas candidatas mulheres à presidência do Brasil: Marina Silva e Dilma Rousseff

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