Parece que o tempo não dá tréguas e já é Natal. No decorrer
da minha vida natal teve sempre um significado triste, melancólico. Minha
formação cristã e política me levavam a ver na ressurreição de Cristo o momento
de vida de vitória de conquistas e o nascimento de Jesus como o maior símbolo
do capitalismo religioso. Todos comprando e distribuindo presentes e dando as
sobras para os mais pobres os vulneráveis. Minha mãe também sempre carregou na
tristeza as relações de natal e eu trouxe esse sentimento por uma vida toda.
2013 minha vida foi chacoalhada por inteiro. Revi valores,
conceitos, sentimentos e me permiti rever questões religiosas e culturais.
Destruir dentro de mim o velho e o antigo não foi fácil e ainda não terminei afinal
não os escolhi, eles foram entrando e fazendo parte de mim desde pequena, não é
assim que se faz! E assim, nesta revisão descobri o quanto é importante rever e
cuidar de cada conceito que estudo aprendo e ensino, e continuo nada sabendo, agora
ainda mais com minhas pequenas crianças em volta. Avó não são só carinhos e
doces, também somos copiadas, é da vida aprender com exemplos dos com que
convivemos.
Então o natal esse ano ficou feliz, perdeu a cara pelo menos
dentro de mim de capitalismo que se sobrepõe á vida. É a comemoração da vida
entre pessoas que amo é buscar o crescimento espiritual. Então fiz uma árvore
linda verde, cheirosa de tuia e bolas vermelha e com cuidados de receber o sol e
a água diariamente para se conservar fresca e viva até o dia 25 de dezembro.
Minha árvore é neste momento minha vida, tem dois caules que representam minhas duas
filhas amadas e cada bola colocada são minhas irmãs, meus irmãos, minhas amigas,
meus amigos que pelo caminho foi me ajudando a crescer e a entender a vida. A
terra minha mãe e meu pai que de tanto amor me mantiveram sempre a caminho e
não desistindo nunca. O perfume que a tuia exala a cada toque do vento ou das
mãos é a delicadeza do amor da Maria Fernanda, Ana Luiza e Lucas trouxeram para
minha vida.
É natal.
E desta vez eu de verdade desejo um feliz natal.
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terça-feira, 3 de dezembro de 2013
Natal 2013
quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Consciência Negra
Eram os anos 50 e naquele dia ela pensou que conseguira
livrar seu filho da sorte de ser negro em terras de brancos. Mulher pobre cega
de um olho fora abusada e não conseguira interromper a gravidez e eis que nasce
um lindo e roliço bebê negro carregando toda sua raça, pronto para seguir seu
destino. Não querendo que passasse pelos mesmos sofrimentos com um alfinete de
fralda tenta acabar com sua pouca vida (essas são minhas lembranças). Não era
esse o destino que o esperava e é salvo, ou não por uma família branca de
origem italiana. Quem dera a morte o tivesse levado pensar ela, agora de onde estiver,
todo o sofrimento de um negro em terras de brancos escravagistas esse pequeno
passou. Comeu o pão que o diabo amassou, as surras foram diárias afinal é de “pequeno
que se torce o pepino”, e ele não podia dar errado afinal estava sendo educado
por mulheres brancas, verdade seja dita as surras não eram privilegio só dele naqueles
dias muitas surras levávamos com a mesma intenção educar. O tempo fez com que
surgisse a revolta e buscou alternativas para sua vida e sua vida foi de muito
sofrimento, trabalho e pobreza, todos os restos caridosamente eram para ele, e seu
filho não conseguiu mudar seu destino miserável, de nada adiantou ter sido
adotado se o amor foi pouco, se as diferenças foram assim tratadas, se dos da
sua idade ganhou carinho respeito, mas ninguém enfrentou o preconceito para
dentro da família, nem tão pouco para a pequena cidade reacionária e conservadora, como se fosse legado somente
dele quebrar os grilhões da escravidão. A liberdade e o respeito de direito não
foi tratado com ele.
Na verdade ele
conseguiu amolecer o coração do velho emigrante italiano, que o amava de um
tanto invejável por qualquer um dos seus filhos e filhas e admirado por essa
neta.
Hoje ele é o que o deixaram ser, sempre com um sorriso no rosto,
agora sem dentes, servindo sempre a todas tradicionais famílias com seu
trabalho de pintor, ”afinal isso ele carrega é pessoa honesta” pode entrar em
qualquer casa afinal foi criado por uma “boa e tradicional família”, e segue levando
a vida.
Consciência Negra, ele não a conseguiu, não o deixaram ter, ele
foi criado para ser um branco filho de imigrantes italianos de pele escura, acho que entortaram o pepino. E eu hoje
acordo com vergonha de mim de não ter enfrentado dentro da minha própria família
a escravidão continuada, posso ter todas as justificativas do mundo, mas nada
justifica.
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domingo, 9 de junho de 2013
Dia dos Namorados e Santo Antônio afogado.
O cheiro
que exalava do seu corpo era de quem viveu de amor.
O coração
pulsava ainda ao pensar nos amores, nas orações para Santo Antônio, nas paixões
de amor eterno e eterno enquanto dure. Marcas de que soubera viver e amar sem
se aprisionar, sem ter medo que não durasse eternamente, quem eternizou cada
momento de amor eterno.
Amou
intensamente e soube se deixar amar.
Foi
amada, foi amante, foi usada e soube usar nem só para amar.
No presente o silêncio mora em seu coração, nem por isso está rezando
para Santo Antônio nem sequer o afogou, apesar de certa vontade de colocar o
santinho a pensar se não era sem tempo de deixá-la sentir de novo o gostinho do
amor danado.
sábado, 8 de junho de 2013
Humano ainda
O cheiro que exalava de seu corpo era horrível, nem por isso
deixava de ser humano. Suas unhas mais pareciam garras de tão longas duras e
sujas, seus cabelos embaralhados e longos escondiam parte de seu rosto sujo e
inchado de longos dias e noites de bebidas e drogas usadas para ocupar o tempo,
tempo que tinha de sobra e que de nada valia.
Muitos passavam e mesmo olhando não o viam, nem ele se via
no meio de tanta solidão e sujeira que com o tempo deixou de incomodar e a
fazer parte de seu corpo de sua pele, uma espécie de couraça que o protegia do
sofrimento e do abandono. Abandono que ele mesmo deixou acontecer por medo de
enfrentar a si mesmo e buscar alternativas.
E pensar que tudo aconteceu tão de repete, de repente como o
amor que pensou que era para sempre.
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